quinta-feira, 8 de novembro de 2007

"Latinidade"

Hoje me recordei da pergunta feita por uma colega de classe durante minha aula de Filosofia na America Latina: “Você se sente latino?”

Parando para pensar, não é só difícil de responder, como também, é irônico não ter convicção satisfatória sobre isso. Afinal, somos uma sociedade de pluralidade cultural invejável, tolerantes para com o estrangeiro, abertos a novas tendências modistas ou de costume sejam de onde vierem. Apesar disso tudo, o brasileiro sente-se latino? Onde estará guardada nossa identidade cultural? Podemos nos referir a ela?
“Em termos gerais, os estudiosos concordam que toda comunidade, especialmente as nacionais, para se manter e se sustentar, precisa forjar um sentido de identidade, ou seja, precisa que seus membros compartilhem um conjunto de representações sobre suas origens e sua história. É uma espécie de discurso inaugural, legitimador de sua existência e de um projeto de futuro no âmbito do que poderíamos chamar de imaginário coletivo.” ¹

Divagando sobre esse ponto, tento pensar numa razoável explicação para essa dúvida.
A começar pelo modo de vida brasileiro: seguimos a tendência pragmatizada pela política onde só o que "presta", vem de importações; consumismo ao modelo Norte-Americano; fascínio pela história e cultura Européia - “lá é diferente, lá é Primeiro Mundo”. Quantas vezes pensamos em ir ao Chile? Honduras? México? Martinica?.
Conceituamos o latino como pobre, sem graça, subdesenvolvido. Reflita com você mesmo: “Quando se pensa na Guatemala, o que imagina?”. Surpreender-me-ia se sua resposta for diferente de “ÍNDIOS”.

Nossa filosofia e mentalidade diferem, e muito, dos demais. Creio que seja mais por termos históricos do que simplesmente sociológico. A grande parcela dos paises hispano-americanos teve sua história e desenvolvimento social marcados por lutas, ideais e objetivos. Eles lutaram por suas independências e suas revoluções são marcadas por amor e sangue. Já aqui, bom, não preciso dar aula de história brasileira para ninguém, não é mesmo!?

Solução!?
Temos que descobrir que SOMOS latino-americanos. Não é um processo fácil muito menos rápido, pelo contrário, trata-se, certamente, de uma metamorfose tão inexorável quanto incômoda. Nos sentimos tão distantes, mas somos incrivelmente semelhantes.

“A obra de Fernando Pessoa agrega-se a poesia e a crônica do grandioso peruano César Vallejo e do guatemalteco Carodoza y Aragón. A nota dominante na ciência política ainda é Tocqueville, Weber e o velho Marx, mas eles estão agora acompanhados dos nicaragüenses Carlos Fonseca e Augusto César Sandino, do salvadorenho Farabundo Martí. Neste contexto, como convencer ao jovem historiador que Eric Hobsbawm e Fernand Braudel são tão importantes quanto o argentino Sérgio Bagú e o cubano Julio le Reverend? Que a antropologia de Lévi-Strauss não necessita ocultar o texto afinado do guatemalteco Severo Martinez Peláez, autor de La pátria del criollo? Como juntar a estética de Glauber Rocha com a notável contribuição do cubano Tomás Gutierrez Alea, diretor de Memórias do subdesenvolvimento? Por que não realizar o estudo comparado – e não a freqüente exclusão – entre Câmara Cascudo e o cubano Fernando Ortiz, autor do esplêndido “Contrapunteo Cubano del tabaco y el azucar”?” ²

Entretanto, toda mudança implica em novos desafios teóricos e novas condutas intelectuais. O universo político e social brasileiro oferece resistências consideráveis para entrar neste novo terreno que atende pelo nome de América Latina. A “política brasileira” que sempre preferiu pensar nossa sociedade como uma mera extensão ibérica, e a universidade, derivada desta poderosa influencia européia, estarão preparadas para entender nossa identidade latino-americana?

“É tempo então de recuperar o tempo perdido, fazer as perguntas ao irmão até tão recentemente desconhecido como quem passa uma noite sem dormir extasiado em procurar respostas que são impossíveis de obter no curto prazo e, muito provavelmente, em nossas limitadas vidas. Mas temos a obrigação de encurtar a distância, recuperar parte do tempo perdido e impedir que novas gerações prolonguem esta deficiência política, científica e cultural que herdamos e, em certa medida, ajudamos a reproduzir.” ³

E você... se sente latino?

Certamente, o parto será muito doloroso.
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Sugestões:
Pensamento: “Nada lhe posso dar que já não existam em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.” (Hermann Hesse)
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Livro : “100 anos de solidão”Gabriel Garcia Marquez (link para download http://www.4shared.com/file/7454073/e4149ce5/100_Anos_de_Solido_Gabriel_Garcia_Marquezpdf.html) Arquivo em PDF
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Musica: “Minhas Desculpas”Dominguinhos (Link para download http://www.4shared.com/file/26450520/1783dd3d/Dominguinhos_-_Minhas_desculpas.html?s=1) Arquivo em MP3
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Filme: “O labirinto do Fauno” - Guillermo Del toro (link para download http://friendlyfiles.net/dw_up/deac6a760709/O.Labirinto.do.Fauno.DVDRip.by.rockgirl.rmvb.html) Arquivo em RMVB
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Posição sexual : “As Estrelas”Kama Sutra (Link para visualização http://www.kamasutra.to/-The-positions--XV--The-Stars-Art104-4-en.html) Não possui conteúdo sexual explicito, pode ver sem problemas
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Até a próxima queimação neural!!!!
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¹ Cecília Azevedo, "Muitas Américas, ricas e plurais"
² ³ Nildo Ouriques - Presidente do IELA



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Pq toda vez pedem pra eu imitar esse bixinho,
ironicamente, ninguem ainda o viu. Ve agora!!!

Um comentário:

Any disse...

As constantes inovações tecnológicas e a "Era da Globalização" provocaram inúmeras mudanças em nas sociedade e nas suas relações...tomamos conhecimento de outras culturas, nos apropriamos dos seus hábitos de consumo, da linguagem alheia (estar mandando...ai, ai, ai), culinária, religião, esportes...da mesma forma, difundimos a cultura brasileira para o mundo...você acha que esse é um processo de criação de uma nova identidade global ou reforçamos a nossa própria identidade nacional?

Somos latinos? Geograficamente, lógico que somos...Historicamente, você sabe, temos outra forma de colonização, diferente dos outros países da América Latina...A simples diferença da língua já nos torna diferentes...
Mas latinidade é um conceito muito restrito e acho que nos encaixamos como excecção da regra. O nosso país é muitoooooo grande, com proporções continentais, com uma rica miscigenação e temos de tudo por aqui: europeus, asiáticos, africanos, indios...o modo social e cultural da população latina é idêntica à nossa? Claro que não! Tem pontos em comum? Alguns...
Mas não respeitar a cultura latina é, no mínimo, estupidez e ignorância.
Voltando a globalização, acredito que talvez agora possamos aprender um pouco mais da nossa própria cultura, quando falamos sobre ela com outros povos. E podemos aprender um pouco mais de outras culturas, INCLUSIVE a latina... O que é Gabriel Garcia Marques? Puro deleite!!E Isabel Allende? E Shakira? hahahahaha...adoro Shakira!!!
Ser chamada de cucaracha nos EUA pra mim é normal...sou mesmo! Mas quando acham que a capital do Brasil é Buenos Aires...dou risada...esse mesmo povo me chama de cucaracha...rsrsrs...
Enfim, ignorância é igual em qualquer parte do mundo!